Amor
A formosura do teu rosto
obriga-me
e não ouso em tua
presença
ou à tua simples
lembrança
recusar-me ao esmero de
permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a
tua cara,
como fazem comigo
soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só tua mão,
a unha polida olho, olho,
olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e
veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e
torna apetecível:
caieiras, desembocaduras
de desgostos,
idéia de morte, gripe,
vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora
antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de
tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas, rispidez
de teu lábio que suporto com dor
e mais retábulos, faca,
tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu
peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em
mim sonhou comigo
e passou um dia
esquisito,
o coração em sobressaltos
à campainha da porta,
disposto à benignidade,
ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que o amor
seja a palavra.
"Penso em você"
- me diz e estancarei os féretros,
tão grande é minha
paixão.
O amor no éter
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
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